Começo por uma declaração de princípio, para que não haja qualquer mal entendido, sou contra a solução OTA, para a localização do novo aeroporto internacional de Lisboa, mas tal posição não tem a ver com uma oposição primária à ideia, só por ser do Governo socialista, mas porque sempre entendi que esta seria, ou será, uma má solução para o nosso País.
Discordei da omissão dos anteriores governos do PSD, que não colocaram um fim àquela opção, nem abriram o caminho para o estudo de soluções alternativas.
Rejeito, igualmente, a opção Portela + 1, que nada resolve, porquanto manteria em funcionamento um aeroporto que já deveria ter saído dali. Lembro que muitos dos defensores desta opção nunca se opuseram à especulação imobiliária à volta do aeroporto, o que criou as condições para a explosão habitacional naquela zona e potenciou os perigos de um acidente que pode acontecer.
Defendo, desde sempre, que a margem sul seria, ou será, o local próprio para a instalação do novo aeroporto internacional de Lisboa - e talvez fosse bom que a memória do passado relembrasse os motivos que levaram ao afastamento liminar, mesmo sem estudos de impacto ambiental e outros, da opção Rio Frio -, a qual apresenta, como se verifica, agora, pelos estudos efectuados, objecções várias. Mas que nada tiveram a ver com rejeição dos anos sessenta. Essa é outra história.
Por isso, não compreendi a posição do Ministro Mário Lino quanto à rejeição, peremptória, de uma opção a sul do rio Tejo.
Os estudos preliminares do LNEC apontam para a viabilidade da opção Alcochete, uma vez afastada a desaprovação dos militares quanto ao encerramento desta carreira de tiro que, na minha opinião, não tem qualquer justificação para a sua existência, face ao papel das nossas forças armadas no quadro de defesa estratégica da Europa.
Contudo, e apesar de admitir que dificilmente a OTA voltará a ser a escolha final do Governo, não sou crédulo para acreditar que o aparelho socialista, que se empenhou, de forma tão veemente, na escolha da OTA, tenha "deitado a toalha ao chão", desistindo daquilo que era considerado quase um dogma do Partido Socialista.
No entanto, as coisas não estão fáceis, e José Sócrates pode aproveitar para dar um novo rumo ao relacionamento do Governo com a sociedade e com as outras forças políticas.
Da arrogância agressiva e sem limites, pode passar para uma consensualização, aparente, através da qual alcance os mesmos objectivos, mas com menos conflitualidade.
Aceitando Alcochete, caso os estudos comparativos confirmem que é a melhor solução, o Governo pode apresentar-se ao País, como Egas Moniz ao rei de Leão, não em defesa da honra, mas demonstrando capacidade para reconhecer o erro, em nome do superior interesse do País e da redução do défice.
Seria uma nova etapa na estratégia para as eleições legislativas de 2009, travando a crispação, acalmando Belém e retirando espaço de manobra ao PSD.
A decisão de construir o aeroporto em Alcochete representará, segundo dizem os especialistas, uma economia de largos milhões de euros, além de permitir a construção modular, evitando um investimento inicial elevado.
Em tempo de sacrifícios para os contribuintes portugueses, esta opção cairia como "sopa no mel", caso fosse acompanhada por um alívio da carga fiscal.
O ciclo eleitoral é inexorável e nenhum governante resiste à tentação da reeleição, utilizando os meios ao seu alcance para realizar esse objectivo.
Vamos aguardar pelos próximos capítulos, para avaliar qual o compromisso do Governo perante os grandes interesses. É da dialéctica desta relação fáctica que nascerá a opção final para a localização do novo aeroporto internacional de Lisboa.
Vitor Fonseca
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