segunda-feira, 13 de agosto de 2007

"Continuamos a afundar-nos"


O confronto público entre a estrutura do DIAP do Porto e a estrutura do DIAP de Lisboa, por causa de uma eventual profissional da noite e da sua irmã, fazendo lembrar um extraordinário filme de Peter Greenaway "O Cozinheiro, o Ladrão, a sua Mulher e o Amante dela", confirma o definhar lento e angustiante de instituições que se pretendem acima de qualquer suspeita e que são ou deveriam ser a última ratio do Estado.
Fica-se com uma estranha sensação de uma "guerra entre famílias", com uns a tomarem as dores de outros.
E, em pano de fundo, temos sempre presente o futebol e os seus dirigentes. Que se escondem num manto diáfano do lamaçal que nos asfixia, convictos que nada lhes acontece e que conduzem os destinos da justiça como se manobrassem andróides num jogo de uma qualquer playstation.
O DIAP do Porto tem a convicção de que a irmã Salgado, Ana, fala a verdade, em defesa de Pinto da Costa. O DIAP de Lisboa convenceu-se que a irmã Salgado, Catarina, fala a verdade, contra Pinto da Costa e em prol de Filipe Vieira. No meio de tudo isto onde fica a Justiça?
Possivelmente perdida num filme de João Botelho, marido de uma das supostas autoras materiais do livro da "gémea da noite", uma vez que esta não deve saber escrever duas linhas seguidas.
Mas a outra Salgado, que de letras e de números só deve saber os que dizem respeito aos cheques que pensava receber e não recebeu, também é de duvidosa credibilidade, pelo menos aferida pelo padrão do "bom pai de família".
A não ser que a verdade e a justiça não interessem para o caso e apenas esteja em jogo uma luta pelo poder, que atravessa o Ministério Público e que o Procurador-Geral da República ainda não conseguiu travar.
Porque não acredito que esta divergência tenha a ver com outros compromissos ou com públicas virtudes e segredos privados do "calor da noite".
Estamos a afundar-nos, alegremente, como sociedade decadente, num ritual típico de um país às portas de uma guerra. Mas haja algum pingo de decência e tentemos evitar que o pântano denunciado por António Guterres afunde o edifício da Justiça, apesar de já ninguém acreditar nela. Ou estão convencidos que os cidadãos, para além do prazer mórbido e mesquinhez salazarista de ver algum pseudo poderoso ser apanhado nas malhas da dita, ligam aos Tribunais? Vejam a permanente desobediência, próxima da insurreição civil, dos condutores, a total falta de respeito pelas instituições e pelas pessoas e depois venham dizer que o "rei vai vestido".
NOTA: a minha maior curiosidade é a de saber quem no filme de Botelho vai fazer de Maria José Morgado, de Luís Filipe Vieira e de Reinaldo Teles.
SEGUNDA NOTA: Márcia Rodrigues merece o Estatuto dos Jornalistas que Cavaco Silva vetou. Penso mesmo que deve andar de "burka", em nome da defesa das mulheres e da independência dos jornalistas. Ainda bem que as outras e os outros não são, na sua grande maioria, como ela.
Vitor Fonseca
vitor.m.fonseca@gmail.com